Produção de Farinha

Fortalecimento da produção agroecológica como estratégia de proteção da TI Vale do Javari

Nós, da UNIVAJA, juntamente com as organizações indígenas OGM, AIKUVAJA e AKAVAJA, iniciamos o projeto de Produção de Farinha com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Este projeto visa fortalecer a produção agroecológica como estratégia de proteção da Terra Indígena Vale do Javari e fortalecer a permanência dos povos indígenas em suas aldeias. O contexto de nosso território e os desafios impostos pela vulnerabilidade social e territorial nos motivaram a desenvolver ações que possam gerar renda e fortalecer a autonomia das comunidades.

Para nós, manter as comunidades em suas aldeias não é apenas uma questão de sobrevivência, mas também de resistência e preservação de nossa identidade, de nossas tradições e cultura. Por isso, com o fortalecimento da produção agroecológica, especialmente da farinha, buscamos criar alternativas para que aqueles que migraram possam retornar e, ao mesmo tempo, oferecer meios para que quem permaneceu nas aldeias possa viver com dignidade. Para atingir esse objetivo, estamos equipando e construindo casas de farinha em seis aldeias, sendo duas do povo Mayoruna (Cruzeirinho e Bukuac – Lago Grande), duas do povo Kulina (Pedro Lopes e Bela Vista) e duas do povo Kanamari (Nomuseu Hiwuh e Arari 2).

O projeto inclui consultoria técnica para melhorar o processo da cadeia produtiva, abrangendo desde a produção até o escoamento dos produtos. Estamos trabalhando para estruturar o armazenamento, definir estratégias de precificação e promover a valorização da nossa produção. Além disso, há um componente voltado para a criação de uma marca própria, fortalecendo o reconhecimento dos nossos produtos, não apenas como itens de comércio, mas como símbolos de nossa identidade cultural. O fortalecimento das cadeias da produção indígena amazônica é uma parte essencial do nosso plano, pois sabemos que isso não só contribui para a geração de renda, mas também é uma forma de proteger e celebrar nossos conhecimentos tradicionais e nossa relação com a terra.

Nossos parentes Matsés, que têm longa tradição na produção de farinha, são grandes protagonistas dessa iniciativa. Eles compartilham suas práticas e conhecimentos, fortalecendo o processo produtivo dentro de suas aldeias e apoiando os parentes Kulina e Kanamari, que também se somam a esse esforço. A produção de farinha é mais do que uma atividade econômica; é uma prática comunitária que reflete nosso compromisso com o território e a resistência à pressão de invasores que buscam explorar ilegalmente nossos recursos, como madeira e peixes.

As ações de capacitação previstas no projeto também são fundamentais. Estamos realizando reuniões nas aldeias, fornecendo equipamentos e insumos e garantindo a aquisição de uma embarcação que permitirá o escoamento da produção agrícola de forma adequada. A implementação das casas de farinha visa garantir que o excedente da produção possa ser comercializado de maneira justa, gerando renda para as famílias e incentivando a continuidade da vida nas aldeias.

A logística complexa e as mudanças climáticas são desafios que enfrentamos, mas nossa determinação em fortalecer a permanência das comunidades é maior. Sabemos que a permanência nas aldeias favorece a proteção territorial, pois uma aldeia cheia é uma aldeia que resiste e protege sua terra. Estamos determinados a garantir que nossas comunidades possam viver em segurança e com dignidade, sem precisar abandonar suas raízes. 

Este projeto é uma iniciativa coletiva, construída em parceria e reforçada pela união dos povos Matsés, Kulina e Kanamari, e reflete nosso compromisso com um futuro em que nossas tradições e nosso território sejam preservados e respeitados.  E que a nossa autossuficiência, por meio de ações sustentáveis, seja alcançada.

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